despedida de Rosa Magalhães, em dia de Nanã e Sant’Anna, deixa um tipo de orfandade nas meninas e meninos de oito a 80 que cresceram vendo suas lições carnavalescas. Pudera, né? Ela foi a principal contadora de causos (a maioria ao largo dos livros didáticos tradicionais) a partir de uma linguagem inventada pelo Brasil: as escolas de samba. Sim, o desfile na Sapucaí é forma formidavelmente nossa de narrar, de deixar os corações “quentinhos” por sermos brasileiros. Ela sabia construir como ninguém esse auto de pertencimento.
Luto: Morre no Rio a carnavalesca Rosa Magalhães; escolas de samba prestam homenagem
Filha do jornalista, polígrafo e acadêmico Raimundo Magalhães Júnior – jurado no primeiro concurso de escola de samba, em 1932 – e da autora teatral Lúcia Benedetti, desde que estreou no mundo em um hospital de Botafogo, cruzou o túnel rumo ao oceano e nunca mais abandonou a sua Copacabana.
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Mentira: ganhou o mundo na carona de livros e ao lado do paizão, andarilho que a estimulou a descobrir as melhores histórias. Cresceu no bairro da “Princesinha do Mar” quando este ainda apenas respirava poesia e arquitetura art déco, bem antes da explosão demográfica e dos fogos da virada de ano. A infância foi no pedal da bicicleta em torno da Praça Cardeal Arcoverde que, na configuração de então, ostentava um lago, com peixes e tudo.
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Carnavalesca Rosa Magalhães morre aos 77 anos
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Rosa Magalhães foi um dos grandes nomes do carnaval do Rio — Foto: Leo Martins
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Rosa Magalhães, na parte mais baixa da foto, numa alegoria da São Clemente em 2015, um dos melhores desfiles da história da escola de Botafogo — Foto: Márcia Foletto
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Rosa Magalhães é um dos grandes nomes do carnaval carioca — Foto: Leo Martins
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Carnavalesca Rosa Magalhães, na época na Imperatriz, na festa do estandarte de Ouro — Foto: Agência O Globo
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Rosa Magalhães e Renato Lage em fotografia de 1996 — Foto: Márcia Foletto
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Barracão da Iimperatriz, carnavalesca Rosa Magalhães — Foto: Christina Bocayuva
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Rosa Magalhães no barracão da escola de samba Imperatriz Leopoldinense — Foto: Zeca Fonseca
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Rosa Magalhães em 1984, quando assume a Imperatriz Leopoldinense — Foto: Fernando Rodrigues / Arquivo O Globo — Foto: Fernando Rodrigues / Agência O Globo
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Barracão da São Clemente, agremiação da Zona Sul. Comandada pela experiente carnavalesca Rosa Magalhães, a escola falará esse ano sobre a França — Foto: Fabio Rossi / Agencia O Globo
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Rosa Magalhães (carnavalesca) — Foto: Arquivo / Agência O Globo
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Velório será aberto ao público no Palácio da Cidade, em Botafogo
Carnavalesca Rosa Magalhães é homenageada: ‘Professora’, ‘imperatriz do samba’ e ‘campeã’
Uma cicatriz na testa era desse tempo, época das primeiras lições no tradicional colégio Sacré-Coeur de Marie. Muito menina ainda, já conciliava um estilo de vida tradicional com doses de vanguarda — equilíbrio (ou conflito interno?) que marcaria vida e trabalho artístico. Começou, por exemplo, a dirigir e a fumar aos 14 anos, com as bênçãos dos progenitores para tais empreitadas — “moderninhas” à época. Jamais desconfiou de que, ao cair no barracão do Salgueiro em 1971 (convite do mestre Fernando Pamplona), encontraria sua vocação e eco para tantas inquietudes.
Na oficina-barracão improvisada, davam expediente — além de Pamplona — Arlindo Rodrigues e Joãosinho Trinta, dentre outros. O desembarque ali ocorreu sem que nem conhecesse os pormenores de uma agremiação. “Ah, você vai desenhar a roupa da porta-bandeira”, decretou Pamplona com seu vozeirão, longe de conferir explicações detalhadas. A novata carnavalesca então olhou para o lado e, sem a menor cerimônia, perguntou para uma costureira: “O que faz uma porta-bandeira?”. O riso foi seguido de mão na massa. João Trinta também dava suas ordens: “Está vendo aquele saco de bolas de isopor ali? Fure as bolas!”. Ela retrucava: “Mas como?”. A resposta vinha como cortada para a bola levantada: “Se vira!”.
Foi assim — de isopor em isopor, sem medo de investigar e perguntar — que entendeu o quanto de Brasil há naquele coletivo, sua capacidade de expressão do tempo, do entorno. Um dia, nossa gente vai acreditar na força civilizatória única da batida no couro quando uma agremiação se espicha no asfalto. E Rosa, enfim, será cultuada de modo certeiro, sem o contumaz pudor dedicado pelos intelectuais aos que lidam com a cultura popular: foi uma das maiores artistas brasileiras de todos os tempos.
* Fábio Fabato é jornalista, escritor e pesquisador de cultura popular.
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